Brasil - Ambiente

NÃO A BELO MONTE - EIS PORQUÊ!

 

O Xingu era, dos grandes rios amazônicos, o único intocado por intervenções de grande porte. Exemplo de bio e sociodiversidade, motivo de orgulho para o Brasil. O ponto é que usinas, tem em toda a parte do mundo. Mas tribos preservadas e floresta virgem tropical, não. As múltiplas tribos índigenas, mesmo as protegidas pelo Parque do Xingu, bastante a montante de Altamira, não estão a salvo. São imprevisíveis as alterações na dinâmica do rio e, em particular, os efeitos dos fluxos maciços de populações que uma nova corrida humana à região do Xingu possa provocar.

A biodiversidade, só na bacia do Xingu, ostenta mais do quádruplo das espécies endógenas existentes na Europa (- Hermes Medeiros, UFPA).  Além disso, em ambiente de floresta virgem tropical, os impactos duma hidrelétrica de grande porte são muito diferentes dos que ocorrem em regiões semi-áridas ou já significativamente alteradas pelo homem.


NORTE ENERGIA - BOMBARDEIO DE PROPAGANDA


No seu site, a Norte Energia tem toda uma panóplia de propaganda, paga com fundos públicos, que visa dar a melhor impressão: ela paga biólogos, arqueólogos, uma unidade de recuperação de espécies, postos de saúde, saneamento – tudo ações isoladas, tipo marketing, que visam apenas a dar uma boa imagem. Mas todas essas ações, quanto mais o tempo passa, menos conseguem iludir a realidade.

Essa realidade está amplamente demonstrada num estudo feito por um painel de mais de 40 especialistas das mais diversas áreas, com 230 páginas de análise do EIA-RIMA, entregue no IBAMA e do qual foi dado conhecimento ao Presidente Lula em Junho de 2009.


Por exemplo, contrariamente ao proclamado pela Norte Energia, o barramento do Xingu irá provocar a estagnação das águas no lago artificial. Trata-se dum enchimento permanente, destrutivo do bioma,  completamente diferente da cheia sazonal, e ainda por cima eleva em cerca de 1 metro em média o nível máximo de cheia natural.*


Já no trecho a jusante, em cerca de 100 km de rio, na Volta Grande, o nível baixará do normal em média de 1 a 3 metros ao longo do ano.


A PIRACEMA (migração de peixes amazônicos) ao contrário do que proclama a EIA-RIMA, não será garantida pela construção de uma escada artificial . As espécies que lograrem vencer esse obstáculo, serão devoradas por piranhas (que se multiplicarão) ou morrem ao atravessar as águas pouco oxigenadas do lago artificial para as quais não estão adaptadas.

 

Na verdade, o impacto da obra de Belo Monte é tão gigantesco que é difícil descrever por palavras. Em artigo publicado recentemente, em Junho de 2012, o especialista em energia prof. Célio Berman afirma que as movimentação de terras da obra é superior às do canal do Panamá - uma das mais gigantescas obras jamais realizadeas pelo homem.

 

É necessário muita desfaçatez, como se vê pelo exposto, para propagandear que esta vai ter poucos impactos no ambiente e pode inclusive beneficiá-lo, assim como às populações pobres e indígenas - sempre os mais afetados pelas grandes obras.

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* Fearnside cita mesmo projetos anteriores (Balbina, Tucuruí) onde também existia o compromisso de não passar um nível máximo, e na prática ele acabou sendo ultrapassado em 4 metros, com o argumento de rentabilizar o gasto realizado na usina. A velha política dos fatos consumados, ou do erro que justifica outro erro, e mais outro e por aí vai.                                       

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BELO MONTE SERÁ ASSIM TÃO VANTAJOSO  ECONOMICAMENTE?


Uma outra mentira – essa de desmontagem mais complexa – é a de que BM não tem alternativas, para o  Brasil, pela energia gerada e pela relação custo-benefício. Sobre isto nos iremos debruçar mais detalhadamente.


Tem inclusive quem estudou economica e fisicamente o projeto e demonstre que essa usina só ganha rentabilidade se o atual projeto for replicado, com a criação de mais represas que garantam nos períodos de seca a vazão suficiente para as turbinas nao pararem. Citemos:

 

"Um estudo do Fundo de Estratégia de Conservação mostra a inviabilidade de Belo Monte sózinha, com apenas 2,8% de chance de compensar o investimento se forem consideradas as estimativas dos vários riscos, e um máximo de apenas 35,5% de chance de ser financeiramente viável se for usada no cálculo uma série de presunções otimistas (Sousa Júnior et al., 2006, pp. 72-74) O estudo conclui que o projeto anda em direção a uma "crise planejada", onde, uma vez construído a Belo Monte, a necessidade de também construir a Babaquara-Altamira vai ser subitamente descoberta, e essa obra muito mais danosa vai, então, se concretizar" - Fearnside, pp. 112 da Análise do Painel de Especialistas já citado.

 

O próprio Plano Decenal 2009-2017 questionava: "Como é possível a maior usina hidrelétrica em território nacional oferecer apenas 39,75% de seu potencial e gerar pouquíssima energia nos anos secos?".

O que leva outro especialista do painel a perguntar: "Qual seria a saída para regularizar o fluxo de água senão um barramento adicional a montante? Estas indicações de operação ociosa [nas páginas anteriores ele analisara exaustivamente quadros dos fluxos do Xingu ao longo de vários períodos] não são favoráveis ao argumento (...) de que haverá um único aproveitamento hidrelétrico no Xingu" - Hernandez, pp. 120 da Análise referida.


Poderíamos continuar com outros estudos muméricos detalhadissimos desta mesma "Análise", mas não o faremos para não alongar. Se o leitor tiver curiosidade é só pesquisar no Google por "Belo Monte-Painel de especialistas".

 

CUSTOS EXTERNOS E CUSTOS INTERNOS


No raciocínio da Norte Energia os custos ambientais e humanos são desprezíveis. As promessas são sempre magnânimas. O mesmo aconteceu em Tucurui, Jirau, Santo António e outras recentes. Os povos locais, esses, contam histórias bem diferentes:  favelização urbana, baixas indenizações (se existirem...), degradação ambiental, extinção de peixes para pesca, nuvem de mosquitos, águas estagnadas, falta de assistência médica e educacional, etc.

Os prosélitos de BM falam da elevação do IDH da região, do “grande desenvolvimento” que vem por aí, etc.. Mas até agora, boa parte das condicionantes – como a demarcação de novas terras indígenas  - não foi cumprida.

Aliás. o que tem sobrado em obras do género, uma vez encerrada a construção e  despedidos os milhares de empregados temporários, é a degradação.  A energia gerada vai essencialmente para os grandes centros industriais do Sul e para as empresas eletro-intensivas, com poucas vagas de trabalho criadas. Essas empresas compram a energia a baixo custo, sendo que a diferença é paga pelos consumidores.

A grande maioria dessas empresas eletro-intensivas são estrangeiras, o que põe a nu a falsidade do discurso pseudo anti-imperialista de alguns patetas ignorantes. Dado a atuação grosseira, usando abusivamente  o "argumento nacionalista" dos acólitos do Belo Monte é bom no final do processo, checar quem está de fato do lado do “imperialismo”. A prova real será quando souber-se para que serve realmente Belo Monte, ou seja, que empreendimentos ele vai alimentar de energia. Para já, sabe-se que existe um grande projeto canadense de exploração de ouro exatamente... na Volta Grande do Xingu! Nada a mais, nem a menos.

 

Mas falando um pouco dos tais custos externos – nunca devidamente contabilizados e sempre pagos pelos contribuintes e pelo ambiente. Tem muitos outros: o custo dos novos assentamentos humanos que a simples abertura de rodovias implica, com mais madeireiros, mais desmatamento, mais garimpo, mais agressões contra os indígenas, mais insegurança em geral. Será isto desenvolvimento sério e sustentável?

 

Agora, se nos focarmos sómente nos custos internos, é apontado o número superior 21 bilhões. Porém, há um histórico de superfaturamento em obras desse tipo que ninguém ignora. E vai  ter ainda custos judiciais, propagandisticos, indenizações, etc., não contabilizados.

Mesmo dando de graça o duvidoso número aanterior, trata-se só por si de um valor gigantesco.


E AFINAL TEM ALTERNATIVA PARA A DESTRUIÇÃO AMBIENTAL, OU NÃO?


Se o governo investisse 10% do gasto em BM  em cada tipo de energia renovável, como  eólico, solar, biomassa,  biocombustível -  para focar apenas as áreas onde o Brasil tem um potencial gigantesco, com a vantagem de que nalguns deles (biocombustível por exemplo) dispõe de muito trabalho de  casa feito – se, repite-se, fosse aplicado apenas 10% - algo em torno de 2 bilhões - em cada uma das áreas citadas, o Brasil não só recuperava o seu enorme atraso no solar, no eólico, na biomassa, etc., como saltava de imediato para a turma da frente mundial, com uma quíntupla vantagem:

-   Criava um “cluster” de novas tecnologias com dezenas de milhares de empregos especializados – e permanentes

-   Mantinha suas florestas e ambiente em geral preservados e intatos

-   Respeitava os direitos das populações, sobrando ainda dinheiro para inúmeros projetos locais

-   Supria de forma sustentável, diversificada e localmente autônoma todas as necessidades energéticas

-   E - vantagem suplementar - ganhava em prestígio mundial, podendo exigir comportamentos idênticos aos Estados Unidos, à China, à Rússia e a outros que hoje recusam Kioto e demais tratados ambientais como se viu na Rio + 20.

Infelizmente, o entendimento de quem domina a política energética nacional é outro. A cruzada que mantêm contra os ambientalistas não augura nada de moderno nem de democrático.


EÓLICO - Para se ter noção dos sofismas desta política, citemos uma página oficial:

«Segundo estimativas que devem ser concluídas em 2011, no  (…) EÓLICO, o potencial brasileiro pode chegar a 300 GW, superando [a produção] das usinas hidrelétricas planejadas e já existentes». – In Atlas Eólico, lançado pela ANEEL e Ministério das Minas e Energia.

Como se vê, não é nenhum “perigoso subversivo” quem está falando, são peritos a serviço do governo.

De resto, já existem em funcionamento no Brasil muitos empreendimentos eólicos, de biomassa, térmicos usando o biocombustível, e alguns solares, o que mostra a viabilidade dos mesmos. Logicamente que essa viabilidade será muito superior se for feita uma verdadeira opção por estas formas de energia e o governo deixar de colocar, na prática, “todos os ovos no mesmo cesto”, o da hidrelétrica, como vem fazendo.

Mesmo  com escassos apoios estatais - pelo contrário, a política do menor preço dita  de “modicidade” nos leilões, só prejudica as energias alternativas – apesar de tudo isto, vários dados mostram que um cluster de energias alternativas é muito rentável no Brasil, desde que assumido na devida escala.


SOLAR - Também na energia  solar, embora os custos atuais por MW superem os do eólico e do hídrico, as coisas não podem ser olhadas de forma estática e genérica. Por exemplo, painéis para simples aquecimento de água já compensam em vários países europeus. Lá, uma família pode recuperar o investimento em entre 2 a 5 anos. Num país com a dimensão do Brasil, e o fantástico número de dias de sol por ano, seguramente que mais parcerias entre universidades e empresas, com mais estímulos – lançariam rapidamente um forte cluster solar, com tecnologia nativa, colocando o país na vanguarda ao potenciar exportações de equipamentos de alto valor agregado para todo o mundo.

É essa aliás a via que é urgente para a indústria brasileira, e não o modelo esgotado de produtos de baixa agregação tecnológica e qualidade muitas vezes sofrível, baseados essencialmente na exploração do setor primário.


BIOCOMBUSTÍVEIS – Igualmente na área dos biocombustíveis, apesar do Brasil ser líder no etanol, fruto do programa Pro-alcoól datado dos anos 70, muito mais poderia ser feito.

Hoje, lamentavelmente, um minúsculo país europeu como a Dinamarca  com 5,5 milhões de habitantes e que, apesar de possuir jazidas de petróleo decidiu diversificar suas fontes energéticas, está bem à frente do Brasil na investigação do  aproveitamento da celulose para biocombustível. Os EUA, não por serem um bom exemplo ambiental, mas por necessidades económicas, desde 1975  possuem um centro de investigação nesta área.

Incompreensível o Brasil que, já por 1989 tinha um terço de sua frota automóvel usando etanol (brasil.gov.br-biocombustíveis) não seja líder também na investigação do aproveitamento integral da celulose de cana e outros produtos. E note-se que o aproveitamento integral da cana permitiria, em uma área agrícola metade da atual, aumentar a produção de etanol, poupando solos ou, alternativamente, manter a área cultivada, mas extraindo dela um rendimento energético muito superior.

Veja-se este paradoxo: enquanto a AIE – Agência Internacional de Energia – recomenda aos países duplicar os investimentos em “energia limpa” até 2020, o Brasil que apenas criou o CTBE – Centro de Tecnologia do Bioetanol - em 2009, decidiu pouco depois, em 2011 reduzir o orçamento para investigação do etanol de origem celulósica - justamente aquele que seria o objeto central do novo  laboratório – deixando perplexos os cientistas do mesmo. Palavras para quê?


TAMBÉM DIZIAM QUE O ETANOL NÃO COMPENSAVA E AFINAL....

 

Em entrevista ao boletim do CBTE (http://www.bioetanol.org.br/noticias/detalhe.php?ID=NTMw) Onório Kitayama, especialista em bioeletricidade, põe em cacos a atual política de modicidade do preço nos leilões elétricos, da qual derivam ideias como a de que o eólico ou a bioeletricidade da cana não são alternativa no Brasil. Diz ele:

“[também] houve um momento em que produzir um barril de etanol no País custava US$ 72, de custo empresarial, enquanto o custo do petróleo estava em US$ 14. O governo então queria acabar com o etanol porque dizia que ele era caro”.

Daí conclui Kitayama que mesmo que uma nova forma de energia seja uns 30% mais cara no presente, o fantástico sucesso do etanol brasileiro mostra que vale a pena persistir. Existem muitos outros fatores para além do custo atual, fatores como o valor final agregado, a criação de empregos permanentes, as redes económicas que o ciclo completo de um produto como o biocombustível pode criar. Aliás, a própria Petrobrás, que está investindo forte no aproveitamento integral do Etanol, considera no seu site, na linha de Kityama,  que as usinas de cana, desde que atinjam uma boa escala, podem lograr um grau de refino semelhante ao do petróleo, com um aproveitamento integral, incluindo a produção de eletricidade baseada nos resíduos - porém só viável numa escala grande das respetivas usinas.


TÉRMICO e BIOMASSA - As centrais térmicas, embora tendo inúmeros candidatos a novas unidades, elas foram travadas por cairem fora das prioridades políticas atuais. Uma de suas  vantagens seria  a proximidade dos centros consumidores e, no caso do biocombustível ou da biomassa da cana, por exemplo, fazerem uso de matéria prima local e evitarem perdas no transporte. As hidrelétricas amazônicas, ao  invés, implicam custos elevados de  transporte, o que até do ponto de vista da segurança nacional, aumenta o risco de grandes apagões.

Uma crítica às usinas térmicas, recorde-se, é a poluição. Porém, se usarem biocombustível essa poluição diminui drasticamente. Além disso, o Brasil ainda não é um grande emissor industrial de CO2, pelo que tem margem para investir no térmico à vontade. Acresce que hoje em dia já existem bons filtros que reduzem o CO2 lançado no ar.


AFINAL QUAL É O MODELO EUROPEU?


Os detratores ambientais pró-BM referem que o modelo brasileiro é melhor que o europeu porque assenta no hidrelétrico em mais de 75% enquanto o europeu se baseia no térmico.

 

É uma das muitas mentiras que os agentes da provocação anti-ambiental vêm espalhando. Alguns na Internet fazem-no inclusive de forma selvática, recorrendo não raro à ameaça e intimidação, o que mostra que no setor da política energética alguém precisa esconder algo.  De fato, só quem tem algo a esconder  precisa criar barreiras ao livre debate de idéias. Coisa típica dos sinistros tempos da ditadura, que todos pensávamos nunca mais poder existir em terras tupiniquins.

O Brasil só ganhava com um comportamento mais civilizado dos responsáveis pelos setores da energia. Mas eles preferem o discurso populista do “sem hidrelétricas na Amazônia tem apagão”,  num remake do velho “ou nós ou o caos” de todos os autoritarismos.

Uma grosseira mentira, ficou demonstrado que as causas quer do apagão de 2009 quer dos últimos apagões sucessivos nada tiveram que ver com escassez de produção. Tratou-se de deficiências no sistema de distribuição, o qual carece de manutenção e de investimento, como hoje é unanimemente reconhecido.

 

Os verdadeiros democratas sabem que, em democracia, sempre tem diferentes alternativas e que o debate só pode ser frutífero.



Sobre o MODELO EUROPEU, começa logo que  o preço médio na fatura doméstica e industrial da eletricidade anda pela metade do brasileiro. Depois, na Europa cada país é um caso.


Suécia, por exemplo, tem maior peso da hidrelétrica e, logo após, do nuclear (“Suécia – Energias Renováveis – AEICEP, pág 14”). O nuclear, porém, já está sendo abandonado pelo país.

Na Áustria ou na Noruega (este última não é da UE),  já a hidrelétrica tem mais  peso.

 

Na Islândia, o modelo assenta no hidrelétrico e no geotérmico.

 

Já na França, 75% da eletricidade vem do nuclear, por decisão tomada nos anos 70, num ambiente de guerra fria e de receios nacionalistas franceses.


Note-se que hoje, os estudos demonstram que, até economicamente o nuclear não é rentável, dado o gigantesco investimento inicial, para não falar nos riscos graves dessa forma de energia.

Países como Portugal, Itália ou Dinamarca, optaram pelo não à energia nuclear faz várias décadas - apesar de todos dominarem essa tecnologia e nalguns deles existir urânio abundante. Mas essa é, na verdade, a tendência geral no mundo desenvolvido, salvo rarissimas exceções.


Portanto, na União Européia,  o que temos são situações diversas de país para país. O único padrão comum é que todos concordam na diversificação máxima de suas fontes energéticas e no abandono rápido das práticas agressoras do ambiente.


As considerações anteriores são apenas uma breve síntese de idéias. Esperamos que contribuam para pôr a nu a demagogia anti-ambientalista e para que as lideranças brasileiras se questionem um pouco mais sobre o “dogma” do uso extremo dos rios amazônicos como principal via para o salto energético do país.


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(*) Compare-se esta posição lúcida da Alemanha com a do Brasil, que mantém prevista a central nuclear Angra 3 e duas outras, até 2030, no Nordeste e no Sudeste. Cadê as lições de Fukushima e o fato de não se conhecer forma segura de armazenar os resíduos nucleares?


– Sobre o EÓLICO,  vidé investigação na Alemanha e como eles já resolveram o problema da acumulação da energia eólica, que alguns pseudo-inteligentes afirmam impedir o seu uso como energia primária: http://www.youtube.com/watch?v=yDa6wvMy79c



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AINDA A QUESTÃO DO AMIANTO...

De "Carta Capital", com a devida vênia:


Por Claudio Bernabucci


Um antecedente fundamental para a nossa reflexão é a condenação, em fevereiro passado, de dois proprietários da multinacional Eternit – entre as principais produtoras de amianto no mundo – pelo Tribunal de Turim, na Itália, por “desastre culposo permanente” e “omissão dolosa de medidas anti-infortúnio”. No processo de envergadura internacional promovido pelas vítimas da fábrica instalada na região do Piemonte, o magnata suíço S. Schmidheiny e o barão belga L. de Cartier foram condenados a 16 anos de prisão, além do pagamento de centenas de milhões de euros como ressarcimentos. Ficou provado que há décadas eles tinham conhecimento dos efeitos mortais do amianto e os esconderam para preservar o próprio business.

Imediatamente após a publicação dessa notícia – curiosa coincidência –, a Eternit ofereceu anúncio que CartaCapital recusou. Outras revistas e jornais consideraram mais conveniente aceitar a oferta. Agora que a disputa pela proibição do amianto se acirra e chega ao Supremo Tribunal – que deveria se pronunciar de forma definitiva nos próximos meses –, outra curiosa coincidência: CartaCapital retoma o assunto e os outros se calam. Não só: no aeroporto de Brasília um outdoor de propaganda da maior mineradora de amianto do País exibe o logotipo de duas destacadas revistas nacionais, que, “sensibilizadas”, apoiam a campanha pela manutenção do amianto.

Esse uso triste e cínico da liberdade de expressão encontra infelizmente o seu pendant institucional na inépcia do Parlamento, onde uma proposta de lei a favor do banimento está congelada faz anos graças a “bancada da crisotila”, um grupo lobístico batizado com o nome da variedade de amianto extraída no Brasil. Fiéis ao princípio de que Deus é brasileiro (e com jeitinho pode até virar amigo), esses senhores defendem a tese dos produtores: a de que o amianto nacional não é nocivo como no resto do mundo. A posição da comunidade científica internacional, da OMS e da Organização Internacional do Trabalho é oposta, mas a influência dos “defensores” do amianto chega até o governo federal, condicionado pela posição “indulgente” dos ministérios das Minas e Energia e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Neste quadro de imobilismo funesto, é de se esperar que o Supremo possa, em curto prazo, exercer certa função de suplência da política, como vem ocorrendo nos últimos tempos, para posicionar o Brasil – no respeito da Constituição – ao lado dos países mais atentos a preservar a saúde dos próprios cidadãos. Convém lembrar que a política, ao não exercer com eficiência a própria missão, deixa perigosos espaços vazios. Na melhor das hipóteses, tais espaços são ocupados pelo poder judiciário, mas frequentemente o são por interesses corporativos ou criminosos. No caso do amianto já se conhecem os nomes dos mandantes e dos cúmplices.